Diário Vermelho


Porto, 19 de Dezembro 2012

No início havia um bosque inerte… vazio… do vazio nasceu a loba… da união entre o vazio e a loba nasci eu com a minha capa vermelha e no meu ventre fértil o bosque ganhou vida.

A minha imaginação viaja livre, sinto que a Capuchinho cresceu comigo. Conhecia sendo uma menina de uns dez ou doze anos e eu devia de ter dois ou três anos (segundo a minha imaginação pois nunca ninguém me disse a idade dela) por isso ela deve ter actualmente entre trinta cinco a quarenta anos mas para algumas de vocês ela pode ter mais ou menos idade... depende dos caminhos que tomamos.

As mulheres que nos encontramos entre os trinta (eu tenho 31) e os cinquenta anos, aproximadamente, fomos transitando pelo estereótipo da viagem heróica masculina procurando a aprovação da sociedade e do externo, ou seja, procurando o reconhecimento fora de nós mesmas (pais, família, no casal, nos amigos, no mundo). Muitas de nós esforçamos-nos por cumprir com todos os mandatos patriarcais, ter uma carreira profissional, ser independentes economicamente, obter êxito naquilo que realizamos, fazer um bom casamento, comprar um carro, uma casa, ter filhos... etc., etc Tudo bem agendado e sincronizado com as demandas sociais. Ouvimos apenas, a versão do conto escrita pelos irmãos Grimm ou pelo Perrault… ambas com  uma moral que nos sussurra: "Sê boa! Sê uma boa menina! Porta-te bem!"

Considerando apenas as versões escritas de Perrault e Grimm, afastamos do comportamento feminino correcto (dizem eles!)... quando saímos aquela manhã da casa materna para levar a cesta com comida a avó e ignoramos os avisos e recomendações da mãe-patriarcal... mas como ouvimos demasiadas historias que não devíamos, recuamos e terminamos por voltar ao caminho da boa-menina (permitindo que uma falsa moralidade nos coma ou que um caçador nos salve do mau caminho) que todos esperam que sejamos e ignoramos o lado selvagem da nossa natureza feminina.

E quando chegamos a este ponto de metas (sempre  impostas de uma maneira subtil, fazendo-nos acreditar que fomos nós que as traçamos) alcançadas perguntamos-nos: ‘Para que serve tudo isto?’

Tomamos consciência que afinal do que nos afastamos verdadeiramente foi da nossa Feminitude quando permitimos que matassem a nossa essência selvagem e nesse momento empreendemos o caminho de regresso... de regresso a casa... de regresso a nossa essência feminina. 

Tomamos consciência de tudo o que fomos sacrificando nas nossas vidas por seguir modelos impostos pela sociedade sem ouvir as nossas próprias necessidades femininas, sem respeitar os nossos ciclos, a nossa natureza intuitiva, os nossos instintos sábios. Seguimos o modelo que nega o que realmente somos.
Vivemos numa sociedade Patriarcal onde a mulher prescinde da sua natureza feminina para ser aceite e deixa de escolher o seu próprio caminho aceitando aquele que é desenhado pelo exterior... 



Alfinetes ou Agulhas?

As vezes na vida parece que só temos dois caminhos A ou B e há que escolher, as vezes com sacrifício e sofrimento, por um ou por outro. Mas na verdade ambos caminhos podem ser positivos e podem ser compatíveis.

1º dia: Fase Menstrual

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